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Fotos com pessoas no Instagram: será que estão sabotando seu engajamento?

Estudo revela que fotos com pessoas no Instagram podem reduzir o engajamento, afetando a percepção do público. A escolha de influenciadores alinhados à marca é crucial.

No mundo das redes sociais, uma imagem vale mais que mil palavras. Mas será que a presença de pessoas nas fotos que postamos pode afetar como os outros veem esses lugares? Um estudo recente realizado em 2023 nos Estados Unidos trouxe algumas respostas surpreendentes sobre esse tema. Veja abaixo!

O que o estudo queria descobrir?

Os pesquisadores Zoe Y. Lu, Suyeon Jung e Joann Peck, das universidades Tulane e Wisconsin-Madison, queriam entender como a presença de pessoas em fotos de lugares legais, como destinos de férias ou locais de casamento, afeta a opinião dos usuários. Será que a presença humana torna o lugar menos atrativo?

Como o estudo foi realizado

Para descobrir, os pesquisadores fizeram uma análise gigantesca de 14.725 fotos no Instagram de um influenciador de viagens e também realizaram cinco experimentos controlados. Veja como eles fizeram:

  • Análise no Instagram: Eles analisaram milhares de fotos de um influenciador de viagens para ver como a presença de pessoas nas fotos afetava o número de curtidas e comentários.
  • Experimentos: Testaram fotos de trilhas para caminhada, locais de casamento, centros de performance e restaurantes, com e sem pessoas, e pediram para os participantes dizerem quais locais preferiam.

Resultados e descobertas

Veja que interessante as descobertas:

  • Menos Curtidas e Comentários: As fotos com pessoas receberam menos curtidas e comentários no Instagram. Isso significa que, geralmente, as pessoas não gostam tanto dessas fotos quanto das que mostram apenas os lugares.
  • Preferências Reduzidas: Nos experimentos, as pessoas mostraram menos interesse pelos locais quando as fotos tinham outras pessoas. Elas preferiam fotos sem ninguém.
  • Importância Pessoal: O efeito de não gostar de fotos com pessoas foi mais forte quando o local era algo importante para quem estava vendo, como um local de casamento. As pessoas preferiam imaginar esses lugares como seus, sem a presença de outros.
  • Pessoas Especiais: A presença de pessoas importantes, como o dono de um restaurante, não teve o mesmo efeito negativo. Isso mostra que a identidade de quem está na foto também conta.

Diferença desse estudo com pesquisas anteriores

Nesta área do consumidor várias pesquisas são constantemente realizadas. Alguns estudos anteriores apresentaram resultados variados sobre o impacto da presença humana em fotos online:

  • 2013: A presença humana em fotos de alimentos não saudáveis aumentava a percepção de sabor das pessoas;
  • 2014: A presença humana em fotos do Instagram aumentava o engajamento (curtidas e comentários);
  • 2020: A presença humana em fotos de companhias aéreas no Instagram não tinha impacto no engajamento;
  • 2021: A presença de rostos familiares em fotos de produtos aumentava o engajamento, mas diminuía a intenção de compra;

O estudo atual (2024) base deste artigo considera um fator importante que foi negligenciado em outras pesquisas analisadas pelos autores: a necessidade das pessoas de construir e comunicar sua autoidentidade. A formação e expressão da autoidentidade dependem da ativação das redes neurais sociais, incluindo o córtex pré-frontal medial e o lobo parietal, que são encarregados de processar informações sobre si mesmo e os outros. A autoidentidade funciona como uma estrutura que permite às pessoas se situarem dentro de diferentes contextos sociais. Segundo a pesquisa, a presença humana nas fotos afeta as respostas das pessoas porque elas sentem que o lugar ou produto na foto "pertence" a outra pessoa.

Por que isso acontece?

Para entendermos melhor como funciona essa nova perspectiva, ela pode ser entendida sob três dimensões principais:

  • Sentimento de Posse: As pessoas sentem que o local ou produto na foto já pertence a outra pessoa, diminuindo seu próprio interesse.
  • Relevância Pessoal: Se o local é importante para a identidade da pessoa, a presença de outra pessoa na foto tem um impacto maior, pois a pessoa sente que o lugar deveria ser exclusivamente dela.
  • Identidade da Pessoa na Foto: A presença de pessoas especiais ou distintivas, como o dono de um restaurante, pode minimizar esse efeito, tornando a presença humana menos negativa.

Além do sentimento de posse, existem outras pesquisas que também exploraram como a presença humana pode afetar negativamente as respostas das pessoas às fotos. Neste estudo de 2024 especificamente, os pesquisadores não mencionaram explicitamente a inveja como um fator que interfere diretamente, mas a percepção de posse alheia pode indiretamente despertar sentimentos negativos relacionados à inveja. Isso reforça a ideia de que o lugar "pertence" a outra pessoa, tornando-o menos atrativo. O sentimento da inveja é frequentemente descrita como um “sentimento de querer o que o outro tem, podendo levar a comportamentos destrutivos em relação ao objeto de desejo ou à pessoa que o possui” (Bastos, 2003). Então, podemos refletir o quanto definir a melhor estratégia para divulgação da empresa é importante.

Escolher o influenciador certo é crucial para o seu negócio

Sob a perspectiva que a mente humana é uma “caixinha de surpresas” escolher o influenciador errado pode resultar em baixo engajamento, ainda mais se as pessoas sentem que tal pessoa não representa sua maneira de ver a vida. Estudos mostram que quando há uma desconexão entre os valores e o estilo do influenciador e a marca, a mensagem pode não funcionar com o público-alvo e muitas vezes refletir negativamente. Além disso, autenticidade é fundamental. Se o conteúdo do influenciador parecer forçado porque o que ele defende sempre foi diferente do que ele está tentando mostrar, aos olhos do público pode não parecer verdadeiro e isso pode afastar seguidores, diminuir o engajamento e ainda impactar nas vendas da forma não desejada. A escolha de influenciadores que realmente se alinham com os valores da marca e têm uma conexão autêntica com o público é que pode levar a campanhas de marketing mais eficazes e envolventes, trazendo bons resultados.

A mensagem é clara

Assim como a presença de pessoas pode afetar negativamente a percepção de um lugar devido ao sentimento de posse, a escolha de um influenciador que não se alinha com os valores da marca pode prejudicar o engajamento e pontecializar as percepções negativas. Na verdade, as pessoas querem ver a vida como ela é, já é perceptível o movimento de pessoas que não se engajam mais com histórias perfeitas, “o mundo real não funciona assim”. Ambas as situações mostram a importância de entender a psicologia do público-alvo e garantir que as representações visuais (fotos ou vídeos) e os mensageiros (influenciadores) sejam cuidadosamente selecionados para ressoar com o público certo de forma genuína. Como exemplo é o sucesso dos dramas coreanos, as pessoas estão em busca de mais leveza para um mundo caótico.

3 dicas valiosas para o marketing

Podemos aproveitar várias dicas valiosas para os profissionais de marketing observando os estudos:

  • Evite pessoas em certas fotos: Se quiser promover lugares legais, pode ser melhor não incluir pessoas nas fotos, especialmente se o local for importante para quem vai ver.
  • Escolha pessoas certas: Se for incluir pessoas, escolha alguém que não vá competir com a identidade de quem está vendo, como funcionários ou proprietários.
  • Atenção ao contexto: Fotos de experiências que não são importantes para a identidade pessoal das pessoas que irão ver não têm o mesmo impacto negativo, pois não há um sentimento de posse que gere sentimentos negativos. Além disso, a presença de pessoas como o dono do local, pode atenuar o efeito negativo.

E no Brasil, como podemos aplicar esses resultados?

Será que esses resultados se aplicariam ao Brasil? A cultura brasileira valoriza muito a sociabilidade e a presença humana, então talvez as fotos com pessoas não teriam o mesmo impacto negativo. Estudos de 2021 indicam que no Brasil, a presença humana nas fotos pode até aumentar o engajamento, especialmente em contextos sociais e culturais onde a interação e a conexão são valorizadas. Porém como já dito acima, está começando a surgir um movimento diferente nos usuários de redes sociais que após a pandemia tem se comportado diferente. De qualquer forma, essas diferenças culturais destacam que precisam ser consideradas nas estratégias de marketing a cultura e os valores do público-alvo, ajustando sempre conforme o público e o contexto local.

É ciúme ou inveja?

Para levar você a refletir ainda mais sobre o seu público-alvo, a diminuição do engajamento em fotos com presença humana pode ser explicada tanto pelo ciúme quanto pela inveja. O sentimento de posse que as pessoas têm ao ver uma foto de um lugar de desejo com outra pessoa pode gerar ciúme, pois envolve o sentimento de se sentir ameaçado ou de perder algo. Por outro lado, a inveja emerge quando alguém deseja o que outra pessoa possui, resultando em sentimentos negativos e ações prejudiciais. Ambas as emoções podem ser desencadeadas pela percepção que as pessoas têm sobre o local ou produto exibido na imagem. Assegurar que tanto as fotos quanto os influenciadores estejam alinhados com os valores da marca é crucial para garantir campanhas de marketing eficazes e uma voz autêntica.

Referências

  1. Lu, Z. Y., Jung, S., & Peck, J. (2023). "It Looks Like 'Theirs': When and Why Human Presence in the Photo Lowers Viewers’ Liking and Preference for an Experience Venue."
  2. Poor, M., Duhachek, A., & Krishnan, H. S. (2013). "The Moderating Effect of Human Presence on the Evaluation of Unhealthy Foods."
  3. Bakhshi, S., Shamma, D. A., & Gilbert, E. (2014). "Faces Engage Us: Photos with Faces Attract More Likes and Comments on Instagram."
  4. Li, X., & Xie, G. X. (2020). "How Presence of Human in Instagram Photos Influences Engagement: The Role of Perceived Authenticity."
  5. Hartmann, W. R., Nair, H., & Narayanan, S. (2021). "The Impact of Human Presence in Product Photos on Social Media Engagement."
  6. Bastos, A. V. B. (2003). "Complexo Fraternal: A Fonte do Ciúme e da Inveja." Revista Brasileira de Terapias Cognitivas